4.12.06

Felisaudade

Assim como a luz matinal
Aviva as folhagens que sonham
Tua lembrança desperta em meu horizonte
Letras vivas que narram nosso romance

Não te quero enfeitar como vitral
Antes ofereço penumbras que aninham
À cada andança tua lanço uma ponte
Reflexo de ti numa nova nuance

Flamejantes tremores da união carnal
Iluminam duas crianças que se apanham
Avistando o amor no olhar defronte
Arrebatadas pela promessa do alcance

23.8.06

Ai, que sacoooooo! Eu sou humana, fico de bode, de mau-humor, tenho problemas, unha-encravada, perco a hora, sabe, assim? Eu sou super-estruturada, mas tem horas que não, sabe? Porque simplesmente, não! Não dá, não insista. Tem momentos que eu sou minha e de mais ninguém, será que preciso pôr uma placa "Não me incomode"? Ora, veja bem, eu super amo as pessoas, mas quando eu tô escrevendo eu não tô pra ninguém, so sorry.

Aliás, sábado, 11 da noite, eu com sono, de pijama e cabelo molhado, deitada no sofá ouvindo "Barulhinho bom", quando ela, a musa, a inspiração, bateu na minha porta, toc-toc. E eu disse: "Entra, dona, há quanto tempo"! E nasceu uma canção (que alguns amigos disseram estar meio Zé Ramalho).

Ligo pra mamá: "Escuta a música que eu fiz".
Mamá: "Vc tá revoltada com o quê"?
Eu: "Por quê diz isso"?
Mamá: 'Esse negócio de anjos não tem asas, só tem cascas".
Eu: "Mãe! Isso é linguagem poética. Você tá parecendo a mãe do Cazuza"!
Mamá: "Por quê"?
Eu: "Porque quando o Cazuza escreveu "eu tô perdido, sem pai nem mãe", a mãe dele ficou puta".
Mamá: "Hahahahahahahahahahauahauahau".

Então, é o seguinte, a "música" (antes fosse, viu?) chama-se Mágoa. Segue letra abaixo. Seu Roger, agora podes comentar que ficarei lisongeada com a vossa crítica.

Os anjos não tem asas
Os anjos só tem cascas
Casca grossa cada dia
Vem mais fundo o fio da faca

Urucubaca zique-zira
Em mim respinga
A grande ira de todo mundo
Que já sofreu por amor

Você me diz que quer que eu te leve
Mas na minha dança só entra quem tira a camisa
E exibe músculo forte
Peito pra dar e vender

Teu coração comigo não pode
Nele as veias são vias em contra-mão
O teu sorriso é um horizonte indeciso
Enigma perdido de razão

8.8.06

Infinitivamente pessoal

A sinhá mandou avisar
Que tampouco pode olvidar
De um certo cheiro-travesseiro
Que embala seus sonhos ao ninar

Porquanto não sejas mais grosseiro
Cativo será teu viveiro
E de tão belo e delicado o recordar
Encarcerado será também carcereiro

27.7.06

Ontem foi dia das Vós, saudades de você, abuelita. Há quase três anos, você nos deixou.
Não me lembro como se faz aquelas correntinhas de crochê, mas uma coisa eu herdei e é tão bonita quanto seus olhos azuis-turquesa: a tua força de matrona espanhola.
Acho que você estaria orgulhosa de mim, vozinha, meus joelhos já estão rotos de tantos tombos que tomei, mas sempre soube levantar.
Depois de duas semanas de depressão, em que tive novamente vontade de morrer e que no meu pensamento só vinha a idéia de que pra frente só piora, eu saí da escuridão. Não sei como, quer dizer, faço idéia, mas agora tudo está diferente. Sei que eu tenho valor, até por essa força de Fênix que me faz renascer das profundidades cinzentas da existência e se pessoas já zombaram de mim ou me feriram com o seu desprezo foi porque eu permiti. Hoje acho que finalmente estou entendendo melhor as relações humanas, as pessoas não são lógicas e o ego é um instrumento poderoso.
Eu sei que foi está sendo só o começo do meu aprendizado, mas eu adoraria saber essas coisas há mais tempo, teria sido ainda mais feliz. É, vovó, acho que eu fui a única herdeira que valeu a pena, ou uma das poucas, posso não ter te dado tanto do meu amor como você merecia, mas assimilei bem o que a vida significa. Não namoro mais cabeludos, e no íntimo, acho que continuo a mesma revoltada de sempre, só que com muito mais paciência. Meus cabelos não estão mais vermelhos, mas minha cabeça já está coçando querendo mudar alguma coisa na minha aparência...E você? Continua vermelhinha ao sorrir? Ainda se lembra de mim? Te quiero muchíssimo, mi amor. Viva Sevilla, Conchita! Viva el toro!

10.7.06

What a wonderful work

Eu sei o quanto sou capaz
Eu tenho autoconfiança, sim
Em excesso, talvez
O que me dá por demais de manha
Pachorra mesmo

Preguiça de fazer algo que me parece simples
Protesto malevolente contra o despotismo
autocrático dos chefes incompetentes

Mundinho ordinário de pseudocultos
Pseudo-articulados
Pseudodescolados
E viva o paliativo!

Leia o cabeçalho
A orelha
A epígrafe
E saia se exibindo por aí

Vestido off-white
Bourbon
Veuve-Clicquot

Channel e bom-ar
Jacuzzi e Jaguar
Champanhe e caviar

Burrice enlatada
De fácil digestão
Para seres indigestos
Pedantemente patéticos
My single´s saturday

Acordar confusa
Tomar inúmeras decisões precipitadas
Resolver uma procrastinação pendente há tempos

Descolar uma balada e ela quase ir por água abaixo
A balada virar e você ir para o Asterix
A balada miar e você ir para o Charme da Paulista

Beber Coca-Cola até 8:30 da manhã
Ver o sol nascer na Av. Paulista

Estar frustrada e, conseqüentemente, mais irônica
Rir das próprias desgraças falando muita besteira
Matar o amigo da sua amiga de rir

Voltar pra casa com o sol ardendo
Dar aquele rolê pela city
Com “Carnavelhas” ao fundo

Não agüentar a animação e ir pulando
e dançando no banco de trás
“Tira essa roupa antes que tudo caia,
deixa de onda, levanta a saia”

Ficar segurando vela em frente ao seu prédio
Não olhar o casal se beijando
Ver o lado positivo da situação
“Posso comer pizza de alho à vontade”

“It´s my life”
Não tem preço!

5.6.06

As pedras não me incomodam mais. Agora as compreendo e o ferimento que cada uma delas provoca me enriquece com cicatrizes bem-vindas. Você não me incomoda mais, a sua ausência me encanta com a poesia que cabe à saudade do que jamais aconteceu. O céu não me incomoda mais, cada ponto azul de vazio é uma infinidade de possibilidades que escolho em vão ou não. E assim cada passo que piso ganha novos propósitos na medida em que descubro um sol diferente a cada dia que amanhece. Da minha janela, o brilho agora é outro e irradia matizes multicoloridos. Vida, seja muito bem-vinda. De volta.

26.5.06

About a child

O garoto se chama Téo, põe dois chicletes na boca e cola as figurinhas na mesma mão (assim como eu quando tinha a idade dele, cute). Depois informa ao pai que quer danone, o pai lhe dá dois danoninhos às colheradas. Vendo o lixo que resta, ofereço uma sacola. Por sorte era dos Incríveis. O garoto não quer a sacola como lixo, a quer como brinquedo. Rio quase o tempo todo. Ele diz que vai fazer uns estragos no ônibus, o pai (que parece o Nicolas Cage) lhe explica que então ele, tão pequenininho, terá de trabalhar como escravo e comer verdinhas para pagar o conserto. O garoto fica pensativo. Olho pra ele, estamos sérios, sorrio e ele retribui, é a criança mais linda que eu já vi. Tão bonita que é impossível ralhar com ela, rio de tudo que faz. Chegou a hora de partir, tento dar tchau, mas ele estava brigando com o pai. Quando vê que fui embora, grita "Tchaaaau". E eu respondo: tchau, amiguinho!

(Andar de ônibus é cansativo, mas também é poético)

22.5.06

Xeque-mate

Sacou o cheque
Despediu-se do chefe
E foi tomar um chá mate

Levou a bota do chefe
Recebeu em troca um cheque
E uma xícara de chá mate

O último gole de mate
Em seguida assinou o cheque
E nunca mais quis ser chefe



This is something specially for you

No calor da mente
Bate a vontade quente
De te fazer aquela proposta

Mas tem que ser irrecusável
Como crime inafiançável
Tem que ser do tipo que bate fundo

Vamos colorir o ordinário?
Fazer um amor visionário
E deixar o mundo pra trás?

Numa noite qualquer
Um homem e uma mulher
Dupla de fogo e de mel

Eu, de puta.
Você, de gângster
Incendiando tudo
Pondo a cidade abaixo

Danger!
Danger!
Danger!

28.4.06

Faria uma poesia para você
Se você fizesse sentido para mim
Mas tal qual não faço diferença alguma
No mundo que você construiu

Fico sem palavras frente a quem não lê
A lírica monossilábica do meu sim

25.4.06

Escrevi isso ano passado...

Uma garota. Dúvidas, desejos e anseios a permeiam, ela tropeça. Cai e se levanta.
Não se sabe aonde vai, mas sabe-se o que se quer. E ela sabe. Ela o quer. Talvez não seja passível de explicação plena, mas no furacão de seus momentos, ela o abraça, o amassa, o apalpa e sabe que é bom tê-lo e tem certeza de que ele também gosta. Talvez fossem feitos um para o outro, talvez fosse atração, mas ele a hipnotiza com alguns movimentos, a voz melódica, um certo grau de timidez e recolhimento que o iluminam num charme ainda maior.
Mas fora desse âmbito de dois, há toda a vida. E todas as vias que ela implica que se tome. Pouco sabe da vida dele, exceto algumas frases deixadas ao acaso, puro escape da boca de outrem. É provável que aprecie bons livros, talvez boa música. É provável que faça sexo. Mas na vida tudo é provável e é isso que a corrói, dúvidas. Haverá luz no fim do caminho? Haverá cores finda a escuridão?
As frases, as frases são muito caras a ela. Gosta de lembrar-se de tudo o que lhe disseram. Que venha a praga, a guerra e o fim. Tudo o que fica são lembranças. Talvez seja esse o valor de bons diálogos. Há algo de visceral que sai da alma quando se fala sem pensar, a beleza emprestada ao ar por meio de frases generosas, passionais, emergenciais, ou simplesmente, espontâneas.
A beleza nos é cara, mais do que o alimento. A beleza enternece. Mas não se vê muita beleza em dias cinza de cigarros muitos e pouca conversa. A composição é a arquitetura das relações. Conversar é como andar de mãos dadas, é compartilhar, dar-se a conhecer, exibir alguma polegada de face oferecida à contemplação. Coisa rara, mas nem tanto.
E ela queria falar-lhe, ouvir-lhe. Tudo o que sai da sua boca miúda é sagrado, tem valor, deve ser levado à sério. Não é idolatria, é encanto.

22.4.06

Presentinho da Lets para mois:

BIA


Beatriz

Beatrix

Bia –s- fera

Bia por um triz

Bia atriz

Bia nada trisca

Atroz atriz Mono Bi atriz

Zirtaib

Bia nada beata

Bia brinca

Bia é um brinco
Meu amor de fato
Nunca mais ninguém terá
Pra fatiar

Serei apenas tua
Como é minha
A tua manha

Eterna manhã
Madrugada ensolarada
debaixo dos lençóis

6.4.06

Augusto dos Anjos nas mãos
Pregos nos pés
Ácido na língua

Flores mortas no peito
Gelo por toda cavidade óssea
Frio frio frio

Um cigarro de ópio aceso de quando em vez
Aventa suas cinzas pelo chão

Desprezo!