12.11.10

Aquela Coisa

A vida é muito legal quando arrumamos a cabeça e paramos de dar ração para os monstrinhos que surgem querendo atormentar naquele joguinho clássico que leva às piores conclusões e no fim tudo que ganhamos é cansaço e tempo perdido.

Quando disse que não vejo muita dificuldade em associar religião e ciência era nesse sentido, principalmente. O lance de pensar positivo tem explicações biológicas, psicológicas, religiosas e filosóficas.

O estresse é prova de como uma mente envenenada interfere no corpo físico, só para dar um exemplo. Mais do que isso, é fácil perceber esquemas de pensamento que criamos como uma certa defesa. Baseados em nossa biografia, vamos criando padrões para evitar repetir aquelas experiências dolorosas, mas se houvesse uma regra nessa linha ninguém nunca andaria de bicicleta, para lançar outro exemplo clichê.

É preciso cuidado ao se definir como “briguento”, isso quer dizer que até hoje a pessoa agiu assim e não que seja incapaz de agir diferente. Mas claro que é muito mais fácil agir pela maneira habitual.

Agora vamos à parte biográfica deste lindo textículo. Eu estou acostumadinha a reclamar que “pô, a banda X vai fazer show e eu nem vou poder ver”. Daí quando a Dilma ganhou e seria o dia mais feliz desse ano (devido a meu pessimismo e tendência a reparar no pior lado de tudo, eu estava enlouquecendo com esses esquizofrênicos das classes mais baixas que votam no Serra, internação pra eles), eu estava com a MAIOR ENXAQUECA DO BRASIL e nem pude ir lá na Paulista ver o Alceu Valença. Por motivos pecuniários, tampouco fui assistir ao Belle and Sebastian. Mas eis que posso ter 453 recaídas, não desisto de ser feliz. E agora...

Oi, eu vou ver a Norah Jones! Oiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Eu vou ver a NORAH JONES, ao lado de casa, DE GRAÇA. Chupa essa manga, encosto! Eu já disse que eu ADORO a Norah Jones? Eu já disse que eu tô muito feliz com isso?

Ah, mas sobre as crenças-monstrinhos-do-Packman, meu correligionário cósmico, Raulzito Seixas, o bahiano barbudo, quando eu tinha uns 14 anos cantava assim lá no meu minisystem “Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu, por isso mesmo, eu não confio nela, eu sou mais eu...”. Na minha arrogância mirim, eu não entendia de jeito maneira o que o arretado queria dizer com isso. Eu estava estudando filosofia no colégio, era super pró-racionalismo e, na minha ignorância, eu pensava que o que temos na cabeça é tudo, que a merda era ser emotivo, e não captava... “como assim, vc duvida do racionalismo, Raulzito”?

Mesmo assim eu gostava deveras dessa canção, primeiro pelo nome, porque o Raul Seixas tem o dom de fazer da simplicidade algo supimpa e o título dessa é “Aquela Coisa”. E, segundo, por que ele encorajava a gente a seguir e desencanar das pequenezas monstrengas criadas pela ração do ego racional.

Então, seguem vários vídeos de canções felizes, agora eu vou curtir meu feriadão, até segunda e um beijo na bunda. La La La...



4.11.10

Humano, demasiado humano

Acredito que a vida seja basicamente a mesma para todos e que a verdade seja uma só exposta em diversas linguagens e fragmentos, de acordo com características ambientais e pessoais.

O lance é que todo o conhecimento adquirido (de fato, relembrado) não ameniza as fraquezas humanas.

Tenho a sensação de ser uma das poucas pessoas despertas em meio a uma maioria de pessoas adormecidas. E é uma luta vã em alguns momentos, a saída de fato seria um isolamento maior, restringindo-me a convivência com pessoas com quem tenha bastante afinidade.

Incrível como ao transitar por diversas correntes filosóficas, chega-se a conclusão de que são tudo pedras do mesmo caleidoscópio.

O auge do meu egoísmo talvez seja querer ajudar como disse Raul Seixas. E isso é o maior sofrimento, porque as pessoas estão num nível de entorpecimento que parece que a dissonância é minha.

Hoje eu escutei “a sociedade tem seus padrões, e quem foge a eles, é um estranho”. Um ser humano não é uma ovelha num rebanho de clones. E mesmo os clones não são exatamente idênticos.

A frustração é não ser capaz de trazer à luz essas distorções que alimentam a infelicidade. Não faz sentido uma harmonia solitária. E uma andorinha só não faz verão. É uma sensação indescritível sentir-se dissociado do resto da humanidade.

O maior barato no melhor sentido da palavra é encontrar semelhantes. E encontrei pessoas que sentiam exatamente o mesmo. Sinal de que não estou só.

Como desafio, no entanto, a proporção de semelhantes é infinitamente menor do que de entorpecidos. E humana que sou perco as forças diante de tamanha correnteza. Pobre de mim que preciso tanto da atenção alheia e vivo a maior parte do tempo em lugares onde “todos estão surdos”.

Sim, todo mundo é gente, os nordestinos, bolivianos e demais diferentes também. As religiões idem, são todas unidas pelo fio do desenvolvimento espiritual, à parte costumes e convenções relativos ao tempo e espaço de sua origem.

Não vejo a menor dificuldade em ligar ciência e misticismo. A cada dia, a ciência afirma o que já era dito há milhares de anos.

Também não acho tão difícil exercitar a empatia ainda que no plano mental apenas. O que será que torna alguém de cabelo verde assim tão incômodo? Ou alguém que abortou? Ou alguém carente? Provavelmente, o incômodo vem do espelho na medida em que se reconhecem fraquezas comuns que continuarão no calabouço. E também da inveja da coragem em realizar desejos e vencer culpas que ficarão igualmente trancafiados.

OK, “seja uma pessoa gelada, uma pessoa clonada, ovelha Dolly, Dolly”. “Sua inteligência ficou cega de tanta informação”. “Hey amigo volte logo, venha ensinar meu povo, que o amor é importante, vem dizer tudo de novo.”