25.4.06

Escrevi isso ano passado...

Uma garota. Dúvidas, desejos e anseios a permeiam, ela tropeça. Cai e se levanta.
Não se sabe aonde vai, mas sabe-se o que se quer. E ela sabe. Ela o quer. Talvez não seja passível de explicação plena, mas no furacão de seus momentos, ela o abraça, o amassa, o apalpa e sabe que é bom tê-lo e tem certeza de que ele também gosta. Talvez fossem feitos um para o outro, talvez fosse atração, mas ele a hipnotiza com alguns movimentos, a voz melódica, um certo grau de timidez e recolhimento que o iluminam num charme ainda maior.
Mas fora desse âmbito de dois, há toda a vida. E todas as vias que ela implica que se tome. Pouco sabe da vida dele, exceto algumas frases deixadas ao acaso, puro escape da boca de outrem. É provável que aprecie bons livros, talvez boa música. É provável que faça sexo. Mas na vida tudo é provável e é isso que a corrói, dúvidas. Haverá luz no fim do caminho? Haverá cores finda a escuridão?
As frases, as frases são muito caras a ela. Gosta de lembrar-se de tudo o que lhe disseram. Que venha a praga, a guerra e o fim. Tudo o que fica são lembranças. Talvez seja esse o valor de bons diálogos. Há algo de visceral que sai da alma quando se fala sem pensar, a beleza emprestada ao ar por meio de frases generosas, passionais, emergenciais, ou simplesmente, espontâneas.
A beleza nos é cara, mais do que o alimento. A beleza enternece. Mas não se vê muita beleza em dias cinza de cigarros muitos e pouca conversa. A composição é a arquitetura das relações. Conversar é como andar de mãos dadas, é compartilhar, dar-se a conhecer, exibir alguma polegada de face oferecida à contemplação. Coisa rara, mas nem tanto.
E ela queria falar-lhe, ouvir-lhe. Tudo o que sai da sua boca miúda é sagrado, tem valor, deve ser levado à sério. Não é idolatria, é encanto.

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