Ontem foi dia das Vós, saudades de você, abuelita. Há quase três anos, você nos deixou.
Não me lembro como se faz aquelas correntinhas de crochê, mas uma coisa eu herdei e é tão bonita quanto seus olhos azuis-turquesa: a tua força de matrona espanhola.
Acho que você estaria orgulhosa de mim, vozinha, meus joelhos já estão rotos de tantos tombos que tomei, mas sempre soube levantar.
Depois de duas semanas de depressão, em que tive novamente vontade de morrer e que no meu pensamento só vinha a idéia de que pra frente só piora, eu saí da escuridão. Não sei como, quer dizer, faço idéia, mas agora tudo está diferente. Sei que eu tenho valor, até por essa força de Fênix que me faz renascer das profundidades cinzentas da existência e se pessoas já zombaram de mim ou me feriram com o seu desprezo foi porque eu permiti. Hoje acho que finalmente estou entendendo melhor as relações humanas, as pessoas não são lógicas e o ego é um instrumento poderoso.
Eu sei que foi está sendo só o começo do meu aprendizado, mas eu adoraria saber essas coisas há mais tempo, teria sido ainda mais feliz. É, vovó, acho que eu fui a única herdeira que valeu a pena, ou uma das poucas, posso não ter te dado tanto do meu amor como você merecia, mas assimilei bem o que a vida significa. Não namoro mais cabeludos, e no íntimo, acho que continuo a mesma revoltada de sempre, só que com muito mais paciência. Meus cabelos não estão mais vermelhos, mas minha cabeça já está coçando querendo mudar alguma coisa na minha aparência...E você? Continua vermelhinha ao sorrir? Ainda se lembra de mim? Te quiero muchíssimo, mi amor. Viva Sevilla, Conchita! Viva el toro!
27.7.06
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